De repente, a oportunidade de voltar a Diamantina, tudo em cima da hora, mas estamos a caminho, saindo no fim da tarde, afinal é sexta feira, último fim de semana das férias e a estrada sempre fica movimentada neste dia.
Ao chegar, fomos direto para a pousada, deixar a malas e conhecer um pouco da noite, dos becos e botecos. Acabamos numa pizzaria no Beco do Mota, área central do centro histórico, jantamos e de lá mesmo retornamos à pousada. Afinal, ficar embaixo das cobertas naquela noite fria parecia ser o melhor programa e as atrações melhores nos esperavam no dia seguinte. Como estávamos hospedados bem perto, a caminhada ajudou a esquentar o corpo.
Manhã seguinte, acordar cedo, tomar café e partir para o reconhecimento do centro histórico.
A cidade vai acordando devagar, mas o movimento é crescente ao longo da manhã. As lojas vão se abrindo, o trânsito começa a ficar mais confuso, enfim, a cidade começa a se movimentar. E como isto é percebido, a cada esquina, a cada beco, mais gente aparece.
Fomos passando pela casa da Xica da Silva, pelas igrejas até chegar na praça onde fica a Catedral. O casario antigo já impressiona. Fomos conhecer o Museu dos Diamantes, construído em 1749 (tem mais mobiliário antigo e imagens sacras do que a dedicação a valiosa pedra), mas, pelo ingresso, vale a visita.
Entramos por outro casarão, onde antes ficava instalada a Câmara Municipal. A visão de lá para a praça é espetacular. E quanta história tem este casarão, basta ver as fotos dele por vários lugares na cidade.
Prosseguindo chegamos a Praça JK, com o velho prédio ocupado pelo Fórum e a igreja de São Francisco bem em frente. O primeiro, antes residência particular, depois Câmara Municipal, não me pareceu exemplo de conservação. Mas lá está a estátua do filho mais ilustre desta cidade, o famoso Juscelino Kubitscheck.
Pouco adiante vamos em direção ao local que considero de maior conteúdo histórico da cidade, a Casa da Glória. O prédio, inicialmente inaugurado como residência particular, foi posteriormente ocupado pelos Intendentes (agentes do governo responsáveis pela coleta de impostos). Mais tarde foi transformado em escola, para onde vinham as filhas dos ricos fazendeiros das regiões de Minas e até da Bahia, bem como alguns poucos privilegiados da sociedade local. Anos mais tarde, as freiras conseguiram autorização para construir o passadiço que liga os dois prédios. O da direita funcionava como um orfanato para pessoas carentes. A riqueza da história local é contada pelos diversos quadros fixados nas paredes e marcado pelo tempo nos pisos e portas. Os pátios internos e os vidros das janelas pintados de branco eram uma das formas de impedir o contato das internas com o mundo exterior. Vê-se que aquilo ali era um mundo à parte frente ao desenvolvimento da cidade.
Próximo a Casa da Glória está instalado o Museu da Seresta, gênero musical muito apreciado na cidade, que apresenta uma pequena mostra de alguns instrumentos e muito história.
Voltamos pelo mesmo caminho, agora indo em direção a Praça do Mercado. Grande parte da cidade está reunida aqui, muitos deles turistas. O largo onde está o mercado é rodeado de casarões muito bem conservados. Eu já havia mostrado isto no outro post (http://www.rotasmineiras.com.br/feriado-em-diamantina-sao-goncalo-e-milho-verde/).
Como todo mercado (este foi construído em 1835), lá tem de tudo, desde temperos, frangos abatidos, doces, cachaça “da boa” e muito artesanato. No palco improvisado um trio toca música sertaneja e as pessoas em volta aproveitam para dançar, afinal, como já dizia a música dos Titãs:
“a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.”
Almoçamos por lá perto mesmo e depois fomos conhecer o famoso solar de Chica da Silva. Um casarão totalmente recuperado encravado numa esquina. Uma maravilha quando se anda por dentro, vendo os grandes cômodos, o piso de seixos no andar térreo e o assoalho de madeira no andar superior. As duas varandas: a externa com treliça do tipo árabe (muxarabiê), onde é possível observar a rua mas sem ser visto, ficando oculto pela treliça de madeira e a interna levando a descobrir o pátio com sua fonte e o quintal, antes famoso pelas plantações de flores e frutos exóticos. Fico imaginando, esta casa, no passado, em um dia de festa, com todos circulando por estas áreas. Sem dúvida, uma construção imponente hoje e mais ainda seria por aquela época.
Tudo é muito interessante, nos quadros de artistas plásticos colocados nas paredes, conta-se um pouco daquela ex-escrava que viveu naquele tempo um romance impensável com um rico europeu que fazia de tudo para a sua amada, chegando a ponto de construir uma mini embarcação que flutuava num lago próximo somente para dar a ela a sensação de como seria o mar, que ela nunca chegou a conhecer.
Prosseguindo nosso passeio fomos direto a Biribiri, uma pequena vila a pouco mais de 15 km de Diamantina, que no passado abrigou uma fábrica de tecidos tradicional deste Estado. Lá foi feita uma pequena vila de casas, para a habitação das famílias de alguns operários que ali trabalhavam.
A característica do lugar acabou virando ponto de atração turística, já que no caminho encontra-se várias cachoeiras da região como a da Sentinela e dos Cristais, além de mirantes de onde se tem uma bela vista dos vales. Porém, estamos no inverno e com pouquíssima chuva, restaram cachoeiras com pouca água pelo caminho.
Na pacata vila, as casas que antes serviam de morada para os operários, hoje são ocupadas por outros moradores da região que as adquiriram em leilão feito pela antiga empresa. Mas mesmo assim enfeitam a praça principal, onde não é possível chegar de carro, o que deixa o gramado bem cuidado e limpo. O local é servido por dois pequenos restaurantes, naquilo que é bem trivial para um lugar ainda a ser mais explorado e uma pousada rústica que acomoda aqueles que querem passar um tempo maior na região.
Outro ponto de interesse em Diamantina é a casa onde teria morado JK (Juscelino Kubitscheck. Situada numa subida do morro, próximo a igreja de São Francisco de Assis, apresenta vários documentos de sua vida, bem como fotos familiares e de grandes momentos do político. A residência é simples, característica de sua família naqueles tempos. É interessante visitar sua outra residência, como governador de Minas Gerais, em Belo Horizonte para poder traçar um quadro da evolução deste que anos mais tarde, em sua objetiva trajetória determinou a mudança ousada da capital para o meio do cerrado, coração do país, originando Brasília.
Á noite no centro de Diamantina, realiza-se nos meses de abril a outubro, sempre no terceiro final de semana do mês um espetáculo musical chamado “Vesperata de Diamantina“.
Este espetáculo consiste na apresentação de várias bandas da cidade que ocupam as janelas e sacadas dos andares superiores das construções localizadas no final da Rua Direita e são regidas por um único maestro que se coloca num pequeno palanque bem no meio da rua. Antes do início do espetáculo, parte da rua é interditada e ocupada por mesas e cadeiras dos vários restaurantes que circundam o local. Estas mesas são vendidas antecipadamente, caso você queira assistir sentado numa delas veja as reservas junto ao hotel ou pousada em que estiver hospedado. Neste final de semana custava cerca de R$ 40,00 por pessoa e estavam todas esgotadas. Os restaurantes fazem o atendimento aos clientes durante o evento.
O show dura cerca de 90 minutos e foi precedido de um espetacular trio que apresentou vários números de “chorinho”, um ritmo musical já bem conhecido dos brasileiros.
Como são várias bandas, o maestro distribui os instrumentistas criando núcleos bem interessantes, de um lado ficam concentrados alguns músicos, de outro, outro tipo instrumental criando uma harmonia de forma a tornar a mesma música ouvida desde o início da rua até o seu final, mantendo uniforme o som do espetáculo.
A platéia se empolga e fica mais animada. Em alguns momentos, canta ou bate palmas acompanhando o ritmo da música. É muito bom, diferente, imperdível se você estiver na cidade.
No dia seguinte, de malas prontas, o destino é o centro histórico novamente, saborear o “Café no Beco”. Mais uma manifestação cultural desta cidade, trata-se de café e chá distribuído gratuitamente pelos comerciantes, com biscoitos e bolos caseiros (vendidos separadamente a preços econômicos) acompanhado por um pequeno conjunto de músicos regionais (viola, violão, acordeon e pandeiro).
E como não podia deixar de ser, mais uma oportunidade de adquirir produtos regionais nas lojas de artesanato.
Este verdadeiro espetáculo regional de musica e hospitalidade proporcionado pelos moradores vem mantendo a tradição desde 2001.
No mais é pegar a estrada e fazer o caminho de volta, com muita segurança e tranquilidade, aproveitando para parar em Paraopeba – MG para saborear um delicioso pão com linguiça na “Linguiça da Bete”, um ponto de parada na rodovia Br 040 – Km 446, em que este produto, muito conhecido na região tem sua legião de admiradores.
E até o próximo passeio!
Como chegar: veja o link do post anterior http://www.rotasmineiras.com.br/feriado-em-diamantina-sao-goncalo-e-milho-verde/
Onde hospedar: Há várias opções de hospedagem, sendo que as pousadas são bem acolhedoras. Recomendo ficar próximo a área central (próximo ao centro histórico) como forma de reduzir o deslocamento, uma vez que as principais atrações estão lá, exceção da visita às cachoeiras e Biribiri que ficam nos arredores da cidade.
Onde Comer: Aqui você define o seu destino e paladar, desde ficar saboreando bebidas e petiscos nos bares do centro histórico ou do mercado ou ainda pelos diversos restaurantes da cidade que oferecem as melhores receitas da culinária regional até saborosas pizzas.
O que visitar:
Museu do Diamante – De terça a sábado – De 10:00 as 17:00 hs – Domingos e feriados – De 09:00 as 13:00 hs. Fechado as segundas-feira.
Catedral Metropolitana de Diamantina – Diariamente, de 08:00 as 18:00 hs.
Casa de Chica da Silva – De terça a sábado – De 12:00 às 17:30 hs – Domingos e feriados – De 8:30 as 12:00 hs. Fechado as segundas-feira.
Casa da Glória – De segunda a sexta – De 8:00 as 12:00 hs e de 14:00 as 17:00 hs
Casa de Juscelino Kubitscheck – De terça a sábado – De 8:00 as 17:00 hs – Domingos e feriados – De 8:00 as 13:00 hs – Fechado as segundas-feira.
Mercado – Centro Cultural David Ribeiro – Aberto diariamente.
Parque Estadual do Biribiri – Aberto diariamente, de 09:00 as 18:00 hs.
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